Os poemas serão compostos por encontros entre reminiscências de viagem
e de leitura, penetrando na obra de cada autor cortejado em uma união entre a
realidade da estrada percorrida e a ficção dos grandes textos em prosa, que
moldaram a América e grande parte do pensamento ocidental.
A escolha dos autores, a
maioria romancistas, não foi realizada ao acaso. A opção majoritária por obras
em prosa e não em poesia contempla sobretudo o desejo de romper divisas, afinal,
o fértil campo literário pode receber sementes prosaicas e nos dar frutos
poéticos.
À epoca de minha
visita-prêmio à Biblioteca do Congresso Nacional, estava sendo exibida a mostra: Books that shaped America. Dos 88
títulos em exposição, treze fizeram parte de minha peregrinação literária. Isso demonstra a relevância das obras escolhidas
para a realização deste projeto.
A intertextualidade será
uma característica da obra, porém, não será o elemento dominante. Tampouco o
projeto flertará com o campo da crítica literária. O projeto buscará a
oportunidade de captar a essência poética dos locais percorridos pelos autores
das obras, em um híbrido de ficção e realidade dificilmente alcançado do sofá
da sala ou de um banco de uma biblioteca, geograficamente distantes da América
real, que vislumbrou de fato o nascer das palavras folheadas com admiração em
nosso país.
Afinal, o impacto que
senti ao terminar a leitura de Walden, em um surrado exemplar em inglês
comprado de um camelô nas ruas de São Paulo, me inspirou a tomar a estrada
real. Pois assim termina o livro: “Only
that day dawns to which we are awake. There is more day to dawn. The sun is but
a morning star”. “Só amanhece o dia para o qual estamos despertos. O dia
não cessa de amanhecer. O sol é apenas uma estrela da manhã”. Prosa? Poesia?
Mas e se ao invés de
apenas ler essas palavras, eu as vivesse em uma real manhã em Walden Pond? E
seu eu me banhasse nas águas dessa lagoa e tocasse nas pedras da fundação da
cabana em que Thoreau viveu tudo aquilo sobre o que escreveu? Haveria maior
possibilidade poética do que essa?
A concepção literária
nada mais será do que o parto da poesia, concebida pelo casamento entre a
ficção dos livros e a realidade da estrada.
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